quarta-feira, março 2

Distância





'    Lá está ele... Mas “lá” aonde? Nem ele mesmo sabe, ele não se recorda de nada antes daquele momento em que ele abre os olhos e vê aquele rosto... Mas... Não é um rosto qualquer... Ele pode esquecer tudo, o passado, a idade, ele pode esquecer até o próprio nome, mas aquele rosto ele sabia que nunca poderia esquecer...
'    Então ele começa a correr na direção dela, que agora andava de costas para ele... Na intenção que ela o olhasse ele grita o nome dela... Irônico, ele não lembra o próprio nome, mas o nome dela saiu fácil por entre seus lábios...
'    Ele corre até alcançar-la e a abraça, mas ela vira fumaça, literalmente, e se esvai dos seus braços... Assustado ele continua a gritar o nome dela, procurando-a naquela escuridão... Então um holofote acende sobre a cabeça dele, e três segundos depois um holofote acende sobre a cabeça dela, um tanto distante, e ela está lá, olhando-o... Ela ergue o braço e estende a mão, com um sorriso gentil no rosto, o convidando para seguir com ela. Ele volta a correr na direção dela, mais quanto mais ele corre, mais distante ela parece ficar...
'    Ele começa a chorar... Mas a distância impede que ela escute o som de suas lágrimas caindo no chão... Um passo em falso na correria e ele começa a cair, cada vez mais, naquela escuridão, ele tenta olhar para cima, mas ele já nem sabe onde “cima” fica... Aquilo parece um pesadelo sem fim... Então ele pensa “Sim! É um pesadelo!” e fechando os olhos o mais forte que pode ele tenta acordar...
'    Então toda a escuridão se vai, e agora, ele está deitado... Porém, ele está deitado em um corredor... Ele se levanta, e vê várias portas imensas ao longo de um corredor, então ele começa a andar... Depois de alguns passos, ele sente uma mão em seu ombro, ele sorri e se vira... É ela! Ali pertinho dele! Porém... Ela está estranha... Aquela, com certeza, não era ela, ele se afasta e começa a correr, mais uma daquelas mulheres aparece, ele se esquiva e continua a correr, e mais delas vão aparecendo, até existirem milhares, incontáveis daqueles “fantasmas”... O mesmo rosto, o mesmo corpo, a mesma roupa... Mas algo nelas não é igual...
'    Correndo por aquele corredor sem fim ele vê uma minúscula porta, que com esforço, ele poderia entrar, parecia ser uma saída diferente das outras por isso ele decidiu arriscar... Ele se dirige até a porta, a abre, e entra... Antes de fechar a porta ele olha para trás, aquele monte de “mulheres-fantasmas” continuam caminhando lentamente na direção dele, ele somente sorri e fecha a porta, tranca, e se vira para dentro do quarto, e a vê... Novamente... O sorriso antes no rosto dele some, dando lugar à expressão de surpresa, e logo, o sorriso aumenta...
'    Ele dá um... Dois... Três... Quatro passos, mas no quinto ele não consegue ir mais além... Depois de inúmeras tentativas de atravessar aquela barreira invisível, ele resolve procurar outro caminho, ele tenta voltar até a porta, mas agora existe outra parede invisível ali... Agora ele nem pode voltar e nem prosseguir... Está preso... Preso em uma caixa de vidro que começa a apertar lentamente, começa a espremer seus músculos, ele sente uma dor insuportável, e logo começa a escutar o som dos seus ossos quebrando, ele fecha os olhos na tentativa de amenizar a dor, e quando os reabre, ele já não está entro da “caixa de vidro”... Ele está bem na frente da garota, mas ela nem olha para ele...
'    Ele tenta tocá-la, mas incrivelmente seus dedos passam pelo rosto dela... Agora ele é o fantasma... Voltando a chorar e sem esperanças de estar junto dela agora, ele se dirige até uma varanda, e olha para baixo... Deveria estar em torno do 20° andar, ele olha para trás para ver o rosto daquela mulher mais uma vez, e sussurra baixinho “eu te amo”... Como se ela o escutasse ela olha para a varanda, e ele se atira...
'    Vendo o chão se aproximar, ele fecha os olhos, rapidamente ele sente a dor do seu corpo chegando ao chão e então...
'    ...Acorda...
'    Ele olha para o lado... Não há ninguém na cama além dele... Aos poucos ele vai relembrando as coisas... Sua memória volta... Ele não namora, não é casado, nem nunca foi. De alguma forma ele sabia que conhecia aquela mulher, mas ele não sabe de onde... Ele tenta lembrar o nome dela, aquele nome que ele falou tão fácil no sonho, mas que agora sumiu da sua mente... Depois de inúmeras tentativas de relembrar ele finalmente consegue... Agora ele sabe qual o nome da mulher, que a distância sempre os tinha separado...
...O nome dela?...        ...Amor!

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